terça-feira, 4 de outubro de 2011

A PEDAGOGIA WALDORF E A
IDADE DE ESCOLARIZAÇÃO
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Uma coisa é certa: crianças têm capacidade de aprender, fantasia muito rica e força de vontade; são otimistas, abertas para o mundo, despreocupadas e curiosas. Os adultos têm a tarefa de não destruir tudo isso, e ajudar as crianças a desabrocharem, tanto quanto possível, os seus potenciais passíveis de desenvolvimento.
A presente crise educacional é também um sinal para o fato de que, aparentemente, reina uma insegurança de como preencher essa tarefa educativa da melhor maneira possível. A discussão atual sobre a passagem do jardim de infância (3) para a escola é bem-vinda na pedagogia Waldorf, justamente porque esse processo de desenvolvimento tem um grande significado pedagógico. Os professores Waldorf são, no entanto, da opinião que a crise educacional só pode ser suplantada e estruturada de uma maneira sensata quando as decisões não são permeadas, em primeiro lugar, por aspectos políticos e econômicos. Do contrário, as crianças, com todas suas habilidades, capacidades, interesses, inclinações e também problemas devem estar no centro do trabalho pedagógico e de formação, assim como seus processos bem diferenciados de amadurecimento. O trabalho pedagógico e de formação começa com a observação de crianças, sem julgá-las, e muito menos ainda comprimi-las em um esquema genérico de formação e desenvolvimento.
Para os professores Waldorf, adiantar a idade de escolarização parece simplesmente representar uma pressa, não levando em conta as chances de desenvolvimento múltiplas e individuais das crianças.
As crianças necessitam de tempo
"A grama não cresce mais rápido se é puxada", diz um ditado africano. Não é possível descrever de maneira mais plástica o fato de as crianças necessitarem de tempo se habilidades devem amadurecer nelas de maneira duradoura. Resultados de pesquisas científicas nas mais variadas áreas comprovam que o estresse e a pressão, incluindo a pressão do tempo, prejudicam dramaticamente o desenvolvimento das crianças. Além disso, não há até o momento qualquer indício de que o adiantamento da idade de escolarização incentivaria um desenvolvimento sadio, menos ainda que isso aumentaria a alegria de aprender e os resultados do aprendizado. A verdade é justamente o contrário.
Por causa disso o objetivo da pedagogia Waldorf é dar a cada criança o seu tempo necessário de desenvolvimento, bem como oferecer o ensino e formação correspondentes – para que suas capacidades corporais, anímicas, espirituais e sociais possam desabrochar da maneira mais ampla possível. O moto não é "tão cedo quanto possível", mas "cada coisa em seu devido tempo".
Por isso é mal colocada a preocupação de que um tempo de vida valioso das crianças será desperdiçado, se elas não entrarem mais cedo na escola. Um jardim de infância não é uma sala de espera, onde nada ocorre e só se mata o tempo; pelo contrário, é um local efetivo de aprendizado. Nele, as crianças conquistam, por exemplo, por meio do (e no) brincar, capacidades fundamentais como competências no movimento, na linguagem, nos âmbitos social e ético-moral, sobre as quais mais tarde é construído o aprendizado escolar.
A maturidade escolar como processo
Na pedagogia Waldorf a maturidade escolar não é decidida somente por meio de uma olhada no calendário. Ela não é definida como um estado a ser atingido, mas ligada a processos complexos de desenvolvimento, cujo julgamento cabe conjuntamente aos pais, educadores, médico escolar e professores que cuidam da admissão. No exame de avaliação da maturidade, da capacidade e da disposição escolares, levam-se em conta vários sintomas. Por exemplo, se o assim chamado primeiro estirão (que começa ao redor de 5½ e termina com aproximadamente 6½ anos) já se realizou, se a troca visível de dentes já começou, e como se evidenciam o comportamento nas brincadeiras, o desenvolvimento social, emocional e cognitivo, a condição das motricidades grossa e fina, e a capacidade de representação mental da criança.
A pedagogia Waldorf coloca grande valor em escolarizar as crianças somente quando esses importantes processos de amadurecimento chegaram a uma determinada conclusão. Só então a criança estará realmente capacitada para concentrar suas forças anímico-espirituais no aprendizado escolar. Não é por acaso que se chama o período do primeiro estirão também de "a pequena puberdade" – uma indicação de que nessa época podem ser vivenciadas, em forma de crises anímicas, intensas fases de formação e transformação corpóreas. Quando essa fase estiver concluída, aproximadamente entre o sexto e o sétimo ano de vida, é que as forças individuais necessárias para o aprendizado tornam-se cada vez mais disponíveis para a criança. Então a criança está realmente madura para a escola.
Conseqüências da escolarização precoce
Um esforço intelectual precoce e muitas vezes unilateral das forças de desenvolvimento da criança, por meio do aprendizado escolar, pode ter como conseqüência um enfraquecimento das capacidades anímicas, sociais e mentais. Pesquisas com crianças precocemente escolarizadas demonstraram que elas apresentam, em curto prazo, sintomas como dificuldades de aprendizagem (crianças escolarizadas demasiadamente cedo repetem de ano com relativamente mais freqüência), cansaço escolar, deficiência de atenção ou perda de motivação. A longo prazo isso leva com freqüência a um prejuízo do potencial de desenvolvimento ulterior em jovens e adultos. Tendo em vista as deficiências de desenvolvimento em crianças que estão começando a escola, o encurtamento planejado do período de jardim da infância, no qual as crianças devem conquistar suas competências básicas, é totalmente incompreensível.
O adiantamento da idade de escolarização altera também radicalmente a pedagogia e a prática do jardim de infância, pois as crianças mais velhas nos grupos passam a não mais pertencer a ele como elementos essenciais da cultura da classe. Esses líderes podem já assumir tarefas e deveres; eles oferecem à crianças menores orientação e têm a função de servirem de exemplos. Aqui formam-se as bases para habilidades sociais efetivas, sobre as quais as crianças estruturam-se no decorrer do desenvolvimento ulterior.
Pois é da maior importância para as crianças mais velhas do jardim de infância, que nessa fase do desenvolvimento elas se vivenciem a si próprias como aquelas que conhecem a vida do jardim da infância, que têm uma certa visão de conjunto, e que já "conseguem" realizar algo verbal e racionalmente . Por isso, esse último ano de jardim da infância dos que têm seis anos ser também chamado o "ano do rei". Justamente esses processo de amadurecimento deveria ser vivenciado pelas crianças ainda no jardim da infância, pois ele é da maior importância para o desenvolvimento da auto-confiança em suas próprias forças. Com o sentimento seguro do "eu consigo fazer isso", as crianças mais velhas deixam o jardim da infância e penetram no mundo da escola.
Cada vez mais freqüentemente crianças crescem em famílias pequenas sem irmãos; cada vez mais importante torna-se um campo de aprendizado, no qual elas possam vivenciar e praticar bem cedo o que significa relacionar-se com outros. O livre brincar, inserido no ritmo estruturado de um dia no jardim de infância, oferece para isso as melhores possibilidades. Deve-se temer que um adiantamento da idade de entrada na escola leve a uma situação em que a pedagogia Waldorf não mais poderia estar em condição de manter seu perfil pedagógico especial, na questão específica de prestar atenção à passagem de jardim da infância para a escola, do ponto de vista do desenvolvimento corporal e anímico da criança. Um direcionamento estrito no sentido de um entendimento pedagógico, que fundamenta particularmente as escolas públicas, iria contradizer a oferta de uma diversidade de formações diferentes, como está na Constituição (4)
Fonte: www.sab.org.br

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